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Quando a incerteza é a única certeza

Vivemos num mundo onde o equilíbrio é ténue e a incerteza é a única certeza. 

  • Opinião
  • Publicado: 2023-09-28 07:46
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Em tempos como estes, onde a incerteza parece ser a única constante, olhamos para números e estatísticas na tentativa de encontrar algum vislumbre de previsibilidade. Mas o que acontece quando até mesmo esses números começam a falhar-nos? O recente estudo sobre o custo de vida em Portugal e Espanha revela um cenário sombrio: salários médios que mal cobrem as despesas essenciais, deixando pouco ou nenhum espaço para poupança. E tudo isto num contexto em que enfrentamos desafios múltiplos e sem precedentes, desde a guerra na Ucrânia, às alterações climáticas, à disrupção tecnológica e à própria crise da habitação.

Nestas estatísticas, vemos que as pessoas têm cada vez menos margem para manobra no final do mês. A "Taxa de Esforço" revela que os salários não só deixam de ser suficientes para as necessidades básicas, como também entram em défice, corroendo qualquer possibilidade de poupança. É como se andássemos numa corda bamba sobre um abismo de problemas sistémicos.

A inflação, esse monstro económico que corrói silenciosamente o nosso poder de compra, tornou-se uma realidade inescapável. Mesmo antes de considerarmos os efeitos adicionais da instabilidade política e social que varre a Europa e o mundo. 

O conflito na Ucrânia, por exemplo, traz consigo um sentimento palpável de insegurança. Já sentimos isso nas bombas de gasolina, nos preços dos alimentos e nas incertezas geopolíticas que afetam diretamente a estabilidade da União Europeia. A guerra não é só um problema de quem está a combater, é um efeito dominó que termina no bolso do cidadão comum, que já tem pouco ou nada a perder.

Por falar em perder, a crise da habitação torna-se mais grave a cada dia que passa. Os preços dos imóveis e as rendas não param de subir, tornando a procura de habitação, uma missão impossível para muitos. Jovens, famílias e até pessoas mais velhas encontram-se encurraladas numa situação onde ter um teto passa a ser um luxo, não um direito.

O cenário complica-se ainda mais com as alterações climáticas. Não é alarmismo, é uma realidade que já vivemos em incêndios florestais mais frequentes, inundações devastadoras e temperaturas extremas. A mãe natureza envia-nos faturas pesadas que teremos de pagar, quer através de impostos mais altos para reparar infraestruturas, quer no preço dos alimentos que começam a escassear.

Entretanto, o mercado de trabalho também se encontra numa encruzilhada. A revolução tecnológica que vivemos promete mais eficiência e até novos empregos, mas também deixa para trás um rasto de obsolescência e desemprego. A máquina substitui o homem e o que é suposto ser um avanço torna-se uma ameaça, e no mínimo, um enorme desafio que teremos de enfrentar, só que desta vez, conjugado com todos os outros desafios que já retratei aqui.

É um coquetel perigoso: inflação, guerra, habitação, alterações climáticas e disrupção tecnológica. Neste cenário, cabe aos governos não só gerir o presente, mas antecipar o futuro. Contudo, cada vez mais me parece que as ações políticas são reativas e não proativas. Se não mudarmos de rumo, a instabilidade que vivemos agora poderá ser a menor das nossas preocupações. As estatísticas são claras; os sinais estão todos aí. Ignorá-los seria não só um ato de negligência, mas um desrespeito para com as gerações futuras que herdarão os problemas que escolhemos não resolver hoje.

Então, o que fazer num mundo onde cada solução parece trazer um novo problema? A resposta, embora complexa, passa por políticas mais robustas e uma visão a longo prazo que considere todos estes fatores interligados. Ignorar qualquer um deles é criar uma receita para o desastre. Embora possamos não ter todas as respostas agora, uma coisa é certa: não podemos dar-nos ao luxo de não fazer nada. 

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