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Interior do país esquecido e sem transportes públicos

Chama-se Patrícia Pereira e reside no concelho de Arcos de Valdevez, zona do Alto Minho. Este concelho integra o Parque Nacional da Peneda Gerês, é classificado como Reserva Mundial da Biosfera, tem Sistelo como Sítio de Interessa Nacional e ainda uma área muito grande de Rede Natura 2000.  

  • Opinião
  • Publicado: 2020-11-02 00:00
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Para além de ser à semelhança de muitos outros pelo país, um território com Carta Europeia de Turismo Sustentável (CETS) enquadro em elevado valor paisagístico e ambiental deste território em particular.  

No entanto, o problema que apresento não é exclusivo deste concelho. E o que se faz aqui e em outros locais pelo ambiente e pelas pessoas fica muito aquém.  

Nos últimos anos tem existido um grande aposta no turismo Natureza, neste e em muitos outros concelhos de interior, que à semelhança deste também têm muitos e bons valores naturais.  

No entanto, estes territórios para além de todas as políticas de anularem as aldeias e destruírem todas as suas infraestruturas (escolas, centros de saúde, pequenos comércios) também acabaram com a rede de transportes públicos destes territórios.  

A agricultura e a floresta são setores há muito esquecidos e já feitos por poucos e velhos e quando esses faltarem eu quero ver que tipo de turismo vão vender, já que o que cria paisagem é a floresta e a agricultura e sem elas não há turismo natureza. 

Em qualquer outra parte do país e em países verdadeiramente desenvolvidos, ter carro e carta de condução é uma escolha. Mas nestes territórios é uma imposição, ou seja, quem não tem carro não consegue fazer nada.  

Há muito tempo que se deixou de investir nos transportes públicos, apesar dos municípios quererem vender a ideia de turismo natureza e de turismo sustentável.  

É impossível a qualquer turista conhecer o interior de Portugal se não tiver um carro. Será que isto faz algum sentido? 

Obviamente que alguém ganha muito com o facto de haver tantos carros, ora vejamos, ganha quem os vende, ganham as finanças anualmente com o imposto de selo, as seguradoras e as petrolíferas.  

Mas não deviam os municípios numa era de fortes alterações climáticas investir em medidas mais amigas do ambiente e mais inclusivas para TODOS os cidadãos? 

Lembro que há muita gente que não tem condições de tirar a carta ou ter carro, por as mais variadas razões.  

Claro que é mais comodo ter o nosso carro e ir onde queremos sem nos preocuparmos. Mas todos os anos, ouvimos e lemos coisas como:  

Município investe em parque de estacionamento; Município investe em rotunda; Município investe em alargamento de via.  

Ora em nenhuma destas estratégias estamos a reduzir a carga automóvel, em algumas até muito pelo contrário, estamos a promover essa mesma carga.  

Não deveria a solução ser inversa? 

Atualmente os transportes públicos só passam no período escolar, mas gostava sinceramente de ver que a situação se altere pois há efetivamente muitas pessoas com essa necessidade e não são só os “velhinhos”.  

Zonas de interior do país têm também outro problema relativamente aos transportes que é o facto destes só passarem na Estrada Nacional e não nos territórios de maior cota. No entanto, nesses mesmos territórios de cota, também residem pessoas e uma grande fatia que necessita igualmente (ou mais) que se cubram as suas necessidades. Pois como referi fecharam os mercados e serviços de proximidade. 

Podemos dizer que não se investe em transportes públicos porque as pessoas não os usam, mas valerá a pena fazer a conta inversa. Afinal porque não os usam as pessoas?  

a) Não temos transportes que cubram toda a área do território (nomeadamente o de cota); 

b) Não nos sentimos seguros a utiliza-los muitas vezes ( pelas condições do veículo e das estradas onde circulam); 

c) Não temos transportes com a regularidade que é necessária; 

d) Não temos informação nas paragens sobre horários, nem aplicativos móveis nem nada que nos ajude a saber essas informações; 

e) Não temos incentivos públicos como os preços dos passes ou outras medidas compensatórias que nos atraiam a essa mesma utilização; 

f) Não temos essa sensibilidade nem há um marketing forte sobre este tema. 

Para que este problema seja visto está a decorrer uma petição online https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT89280&fbclid=IwAR1GW9RCKk_HYfh-DHktAHHaUnoWxoQ7TWhRRws6g0uIb6iEVM8oRab0hBs a qual gostaria muito que assinassem e noticiassem.

Seria ótimo que fosse otimizado estes serviços, e que fosse criada uma rede de serviços municipal e intermunicipal e permitisse uma mobilidade mais inclusiva, mais amiga do ambiente a mais económica para as famílias. Pois ter um carro ainda é um investimento grande para qualquer pessoa, quer na compra, quer na sua manutenção. 

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