O estudo “Desertos de Notícias Europa 2025: Relatório de Portugal” confirma persistência de desigualdades territoriais, com 83 concelhos classificados como desertos ou semi-desertos (55,5%), e um crescimento acentuado dos meios digitais.
O mais recente estudo sobre “desertos de notícias” em Portugal revela que a crise do jornalismo de proximidade em Portugal mantém padrões já identificados em 2022. O estudo, pioneiro na temática e abrangência, visa indagar as alterações que ocorreram e atualizar o mapeamento dos concelhos onde se verifica a ausência ou escassez de meios de comunicação social de informação geral e de natureza jornalística.
Os dados apurados a 1 de junho de 2025 indicam que 171 concelhos (55,5%) apresentam algum nível de problema na sua cobertura noticiosa local, um ligeiro aumento face aos 166 concelhos registados em 2022.
Principais resultados e evolução face a 2022
O cenário nacional é de estabilidade, com pequenas variações resultantes sobretudo de ajustes metodológicos. Contudo, o total de concelhos em algum tipo de deserto (desertos totais e semi-desertos) subiu de 78 para 83.
Desertos de Notícias: Portugal conta com 45 concelhos classificados como desertos totais (14,6%), uma redução em relação aos 54 registados em 2022. Um concelho é classificado como Deserto de Notícias quando não possui qualquer tipo de noticiário local.
Semi-Desertos: O número de semi-desertos aumentou de 24 para 38 concelhos (12,3%), indicando uma transição na fragilidade da cobertura. Os concelhos em semi-desertos são aqueles que contam apenas com noticiários não frequentes ou ocasionais.
Ameaçados: Mantiveram-se estáveis 87 concelhos ameaçados (28,3%) entre 2022 e 2025. São classificados como ameaçado, os concelhos com apenas um meio produtor de noticiário local regular.
No total, mais de metade dos concelhos portugueses (53,9% no estudo inaugural de 2022) enfrentava ou já se encontrava em algum grau de risco de se transformar em desertos de notícias.
Fragilidade no interior e crescimento digital
As desigualdades territoriais persistem como um desafio significativo. A ausência de meios de comunicação social concentra-se acentuadamente no interior do país, com destaque para as regiões do Alentejo e Trás-os-Montes. Em contraste, o litoral e as áreas metropolitanas, como Grande Lisboa, Porto e Península de Setúbal, apresentam-se praticamente sem desertos.
A sub-região do Alto Alentejo é destacada como crítica, com apenas 9 meios para 103 mil habitantes (dados de 2024).
O Alto Tâmega apresenta 15 meios para 78 mil habitantes, ostentando o maior rácio de meios per capita.
A Grande Lisboa não registou desertos ou semi-desertos, sendo a Amadora o único concelho identificado como ameaçado.
Em termos de evolução do panorama mediático, o relatório sublinha que o digital se assume como suporte dominante e em crescimento. Desde 2022, verificou-se a criação de 76 novos meios digitais (65 exclusivamente online). À data de levantamento dos dados, 1 de junho de 2025, Portugal contabilizava 891 meios regionais, dos quais 409 são digitais, 399 impressos e 263 rádios.
A importância do jornalismo de proximidade
O relatório reforça a urgência de fortalecer o jornalismo de proximidade, que tem um papel vital na esfera pública.
A crise do jornalismo local, marcada por constrangimentos financeiros e pela migração de receitas para grandes plataformas digitais, compromete o escrutínio político e a promoção da identidade local. A ausência de cobertura noticiosa cria condições favoráveis à proliferação de desinformação.
O relatório, que utilizou a metodologia baseada em registos oficiais da ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, propõe-se a ser um instrumento de apoio à formulação de políticas públicas e ao desenvolvimento de práticas profissionais.
O estudo “Desertos de Notícias Europa 2025: Relatório de Portugal” é da autoria de Pedro Jerónimo, Giovanni Ramos, Luísa Torre e Inês Salvador, investigadores do LabCom – Laboratório de Comunicação da Universidade da Beira Interior, Covilhã.
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