Um desejo de fim de ano

Quando se aproxima o final de mais um ano, todos procuramos dar sentido ao futuro, representado no próximo, com as reflexões sobre tudo o que foi, esse que termina e o que queremos, ou desejamos que seja o seguinte, expressas nas promessas de fim de ano que nos fazemos.

  • Opinião
  • Publicado: 2022-12-30 19:03
  • Por: Antero Carvalho

Muitos de nós, apoiamos essas reflexões em princípios rígidos e algo perniciosos, em que a métrica é a do; tudo ou nada, ou seja, sucesso ou insucesso, certo ou errado, bom ou mau. Lamentavelmente, este tipo de bipolarização, leva à inevitável tendência para a interpretação como resultados negativos, tudo o que não seja radicalmente visível, como sucesso. Isto, leva-nos às constantes e prematuras desistências, ou em alternativa, à fuga, através da tendência da auto desculpabilização, sempre que se conclui do resultado, menos alcançado de algo, como negativo. 

Tal postura, não nos permite perceber que qualquer que seja o resultado, haverá sempre algo de bom a retirar dele. A partir dessa atitude, numa introspecção sincera e positiva, aceitando-o como uma oportunidade de aprender com os próprios erros e a partir deles, desenvolver competências que nos permitam, não errar, ou melhorar, em situações homólogas.

Poder-se-ia dizer que a culpa é da pressão social, sobre o que é a interpretação e aceitação do errar, do insucesso, ou do negativo, como mecanismo de aprendizagem através da experimentação. Isto, em qualquer processo de crescimento que a vida nos coloca, tanto profissional, quanto pessoal; no amor ou nas amizades, nas relações com outros, ou até nos processos de autoconhecimento.   

Eu prefiro atribuir esta tendência, da maioria, não à pressão social, em si, mas a uma nossa necessidade intrínseca, criada a partir da cultura que nos foi incutida paulatinamente, refletida na importância que damos, ao que os outros pensam de nós, resultando numa constante necessidade que temos de construir uma imagem em torno dessa absurda superficialidade. Essa atitude, termina por ser, não só as grades de uma prisão que nós construímos e onde nos colocamos dentro, como também, tornamos, os outros, donos das chaves que dão acesso a uma futura libertação, ou seja, fechamo-nos lá dentro e deitamos as chaves fora. 

Quando tomamos a decisão do que é mais importante para a construção do que somos intimamente enquanto seres humanos, definimos o resultado não só desse futuro próximo que é o ano seguinte, como definimos tudo o que seremos enquanto seres humanos: o resultado de uma permanente necessidade de se ser aos olhos dos outros ou o resultado de uma introspeção constante, honesta, justa, mas livre e desprendida da importância do que é socialmente aceite. Algo que nos transforme, no que precisamos ser e não no que julgamos precisar. 

O que desejamos ser? Seres desconhecedores de si próprios ou seres que dia a dia se movem num permanente e ardente desejo de ser, a cada dia, a melhor versão de si mesmo, face ao dia anterior, um fluxo constante de transmutação e superação do ser-homem, no super-homem - o homem (mulher) que se superou a si próprio(a).

A reflexão e as promessas de final de ano de cada um de nós, daí resultantes, deveriam ser produto da consciência que a vida não é uma competição entre eu e os outros, mas sim entre o que fui, o que sou e o que serei.

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