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Ciclismo feminino evoluiu mas faltam apoios e pandemia não ajudou

O ciclismo feminino em Portugal tem evoluído, dizem à Lusa várias atletas a competir nos Nacionais de estrada, em Castelo Branco, mas faltam apoios a todos os níveis e a pandemia de Covid-19 veio piorar as coisas.

  • Desporto
  • Publicado: 2021-06-19 00:00
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Se é reconhecido um aumento no número de praticantes, as dificuldades motivadas pela pandemia, a falta de investimento e de interesse pela vertente feminina de um desporto ‘acarinhado’ pelo país são problemas elencados pelas corredoras ouvidas pela Lusa nos Nacionais de estrada.

Para a nova campeã de elite de fundo, Maria Martins, apurada para os Jogos Olímpicos Tóquio2020, e a correr no estrangeiro pela Drops, há “uma grande progressão nestes últimos dois anos”.

“Já não corria em Portugal desde 2018, e chegar aqui e ver esta corrida com um pelotão enorme... é positivo e surpreendente. Dou os meus parabéns às equipas de formação, porque é importante que não parem. O futuro são elas”, disse à Lusa a vencedora do ‘sprint’ final de hoje, em Castelo Branco.

A atleta, apurada no omnium de ciclismo de pista, espera poder inspirar “muitas” novas ciclistas, ao lado de Raquel Queirós, também a caminho dos Jogos no ‘cross country’ olímpico, lembrando as inspirações que teve, como Daniela Reis, sem correr desde o ano passado, devido a uma queda.

Na corrida, ficou “muito surpreendida pela positiva” com o pelotão, não só pelo respeito como pelo número de atletas, observando “uma evolução notória”. “É bom para o ciclismo feminino. O futuro pode ser muito bonito”, atira a ciclista, de 21 anos.

No 21.º lugar ficou uma estreante, Marlene Gonçalves (Douro BTT CPAD), de 31 anos, uma atleta habituada ao BTT mas que, devido à redução de corridas pela situação pandémica, quis “experimentar”.

“O ciclismo feminino em Portugal tem muito que evoluir, somos um bocadinho esquecidas. Com esta pandemia, ainda piorou”, declara.

A ciclista lamenta a falta de apoios e atenção para o pelotão feminino, pedindo “alguém dentro da Federação Portuguesa de Ciclismo que fosse mulher”. “Para ajudar a puxar-nos um bocado para cima”, desabafa.

Aos 44 anos, Ana Valido ainda correu junto do pelotão de elite, e não na categoria de veteranas, embora tenha abandonado, e traz “25 anos de ciclismo” no corpo, desde um tempo que, conta à Lusa, chegou a ser “a única mulher federada”.

“Acima de tudo é por gosto. É preciso gostar mesmo da modalidade, tive um problema de saúde grave e voltei. (...) Agora, temos aqui um pelotão de uma centena de ciclistas, evoluiu mesmo muito. [Mas] falta ainda muito apoio ao ciclismo feminino em Portugal”, comenta.

A experiente ciclista, em 2015 vice-campeã nacional de contrarrelógio, vê o número de praticantes a aumentar, mas lamenta que “equipas e patrocinadores” não se interessem mais.

Para evoluírem, explica, as ciclistas precisam de “correr lá fora”, e se não há condições financeiras para isso, com “falta de patrocínios”, tudo se torna “muito complicado”.

“O número de praticantes aumentou, vêm até do BTT ou do triatlo, para a estrada. Mas era preciso investir mais para que a geração nova pudesse crescer mais e serem mais competitivas lá fora”, analisa.

A veterana lembra o papel de Maria Martins e Raquel Queirós, que ajudam “pelo menos a trazer outras ciclistas que se interessam”, mas para trazer mais patrocínios a pandemia “complicou” tudo.

Uma das razões para continuar a correr, afirma, é poder “ajudar outras a perceber que isto envolve muita coisa, não é só andar de bicicleta”. “É preciso uma paixão muito grande pelo ciclismo”, diz.

Prova disso é que na equipa da Bairrada, pela qual corre, cresce uma jovem de 17 anos que hoje teve um dos grandes momentos da ainda curta carreira, ao vencer a prova de fundo de juniores.

Trata-se de Beatriz Pereira, de Vila Nova de Famalicão, que não cabia em si de contente com o título, até pela ambição, que não esconde, de correr em 2022 “numa equipa internacional”, pois Portugal “ainda tem muito para crescer”.

“Gostava de entrar numa grande equipa e o meu sonho é fazer um Giro Rosa. Também quero entrar na universidade [em medicina]. O sonho é chegar ao nível mais alto”, admite.

A jovem vê “muito por onde crescer” para a modalidade e, para isso acontecer, “é essencial apoiar as atletas e conseguir mais praticantes”.

“Infelizmente, ainda há o hábito do ‘queres perseguir o ciclismo, não vale a pena’. As atletas acabam por desistir sem explorar o seu potencial. E deixar de dizer que é um desporto de homens, porque não é”, desabafa.

‘Tata’ Martins e Raquel Queirós, mas também Daniela Campos, hoje segunda classificada, “ajudam muito”, mas também Daniela Reis, porque as mais novas “olham para elas como um exemplo”.

“Ao vê-las conseguir... ok, se calhar dá para perseguir este sonho, posso tentar. Sei que nunca me irei perdoar se não tentar perseguir este sonho de ser ciclista profissional”, declara.

Beatriz Pereira descreve ainda a experiência de correr com Martins e Campos no pelotão, numa prova que juntou cadetes, juniores, elite e veteranas, de “incrível”.

“É como jogar futebol com o Cristiano Ronaldo. Têm tanto para nos ensinar. Até o pedalar é diferente, o andamento, a técnica, a tática...”, remata.

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