Traduzido em 11 línguas: Poema de Gonçalo Salvado celebra a deusa do amor e o erotismo numa edição do Museu Nacional de Arqueologia

Com o título em latim “Carmen Ad Aphroditen (Poema a Afrodite)” acaba de ser publicado o livro de Gonçalo Salvado numa colaboração da Editora Lumen com a Livraria Sá da Costa Editora de Lisboa, em parceria com a Quinta dos Termos. 

  • Cultura
  • Publicado: 2021-03-03 00:00
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

O presente livro insere-se numa coleção de poesia, única no panorama editorial português, dirigida por Gonçalo Salvado, cujas obras surgem em original formato livro/garrafa, numa união que pretende materializar a relação simbólica e milenar entre o vinho e a poesia. O editor é Ricardo Paulouro.

O livro apresenta um poema de Gonçalo Salvado, de homenagem a Afrodite, a célebre deusa grega do amor e do erotismo , e grande imagem arquetípica do feminino primordial, e surge traduzido em onze línguas. 

O poema inspira-se num fragmento de estatueta de Vénus em mármore branco (Séc. II d. C.)  proveniente da antiga cidade romana de Balsa (Luz, Tavira, Portugal), que se encontra no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.  

      O poema foi primeiramente publicado numa revista literária argentina cuja temática incide na cultura clássica greco-latina, dirigida pelo professor, escritor e tradutor argentino Raúl Lavalle, tendo este posteriormente traduzido o poema de Gonçalo Salvado para o Latim e para o Grego antigo. O livro apresenta ilustrações inéditas, realizadas expressamente com esta finalidade por Dorindo Carvalho, um dos designers gráficos/artistas portugueses mais marcantes da segunda metade do séc. XX. Inclui uma nota de abertura de Raúl Lavalle e um texto de abertura de Maria João Fernandes.

Entre as traduções do poema salienta-se uma, pelo ineditismo, para a língua Sérvia realizada por Branislav Mihajlovic, conhecido artista Sérvio, radicado em Portugal, desde 1992, muito familiarizado com a poesia, sendo filho de Dragoslav Mihajlovic, considerado o maior escritor Sérvio vivo. 

A edição do livro que agora se publica, destina-se na sua totalidade, a ser futuramente comercializada, em exclusivo, na loja oficial do Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, a partir de proposta nesse sentido. A sua apresentação está prevista para a semana do advento da Primavera, visto Afrodite se associar a esta estação do ano e estar relacionada com o florescer e a renovação da natureza.  

A presença deste poema alusivo a Afrodite numa coleção de poesia especifica dedicada ao vinho justifica-se não apenas porque segundo a Teogonia de Hesíodo a Deusa ter mantido uma relação amorosa com Dionísio, o deus grego do vinho, lembrando os versos que a poetisa grega  Safo  de Lesbos (c. 630 — c. 570 A.C.) escreveu evocando Cípris (o outro nome dado a Afrodite): “Vem, Cípris, a fronte cingida, e nas taças de oiro, voluptuosamente entorna o claro vinho e a alegria”,   escolhidos para fechar o livro. 

De lembrar que não é a primeira vez que Gonçalo Salvado se debruça sobre a temática de Afrodite/Vénus que lhe é cara. Em 2016, organizou um recital de poesia amorosa, com o título: "Vénus e o Amor na Poesia Latina e de Expressão Portuguesa”, onde leu, entre outros, poemas de sua autoria, no contexto da inauguração da exposição de pintura de mestre Gil Teixeira Lopes: “Os Caprichos de Vénus”, enquadrada num ciclo de exposições dedicadas ao tema do “Nu Feminino e a Arte”, comissariadas por Maria João Fernandes, em Gouxaria/ Alcanena. Nesse recital, G. S. lembrou a extraordinária importância de Vénus para a cultura portuguesa, sublinhando que nos Lusíadas, Camões apresenta Vénus como deusa protetora dos portugueses.  

De referir também que em relação com este tema, e prevista para este ano, está a concretização de um outro projeto interdisciplinar de Gonçalo Salvado e Maria João Fernandes: “A Imortalidade do Amor, Os Amantes de Pompeia – Contributo para a Fixação de um Novo Mito Amoroso” que engloba uma antologia poética, com organização de Gonçalo Salvado e uma exposição colectiva de escultura, pintura e gravura comissariada por Maria João Fernandes.  A exposição colectiva partiu da ideia de uma antologia, da autoria de Gonçalo Salvado, de poemas inspirados nos “Amantes de Pompeia”, a primeira a nível mundial e inclui colaborações de reconhecidos poetas portugueses e estrangeiros e conta com um prefácio do conceituado ensaísta e crítico literário português Fernando Guimarães. A antologia será editada igualmente pela editora Lumen em formato de livro convencional. De lembrar que no período romano, Pompeia foi um importante local de culto a Vénus, sendo esta deusa protetora dessa cidade. O projeto sobre os “Amantes de Pompeia”, deverá equacionar o triunfo do amor sobre a morte, sobre o tempo e sobre todas as vicissitudes que ameaçam o destino humano. Um tema muito atual atendendo à situação de perigo que vivemos.

Do texto de abertura de Maria João Fernandes salienta-se: “Este novo livro de Gonçalo Salvado editado numa coleção que dirige e equaciona a relação da arte e do vinho, reúne alguns temas que são caros à sua poesia, sob o signo de um arquétipo universal do inconsciente, com extraordinária expressão na literatura e nas artes plásticas do Ocidente, da antiguidade clássica aos nossos dias. Afrodite, deusa do amor, nascida das águas, representada no fragmento de uma estatueta de Vénus em mármore branco do Séc. II d. C. e imortalizada num célebre quadro de Botticelli, inspira o poema traduzido em 11 línguas, uma vez mais sob o signo do feminino e da expressão de um amor que leva a intensidade da sua expressão ao paroxismo da morte. Numa visão em que a síntese é sinónimo de poder de sugestão plástica e de mestria poética.”

Acerca do livro que agora se publica expressou-se Gonçalo Salvado: “Cultivo uma genuína devoção religiosa por Afrodite. No fundo, toda a minha poesia é um tributo a esta deusa. Não tenho outra divindade.”

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