O comandante dos Bombeiros do Fundão, José Sousa, demitiu-se hoje do cargo na sequência de um alegado caso de violação praticado por bombeiros a um outro profissional.
Deixou uma mensagem à corporação e disse-se com “o coração pesado, mas com a dignidade que a casa merece”.
Oito dos 11 bombeiros do Fundão detidos pela PJ por suspeita dos crimes de violação e coação sexual foram suspensos, na sequência de um inquérito interno.
Onze bombeiros voluntários do Fundão, no distrito de Castelo Branco, foram detidos na terça-feira pela Polícia Judiciária (PJ) por serem suspeitos de dois crimes de violação e um de coação sexual, dos quais terá sido vítima um outro bombeiro, numa praxe.
Na missiva a que a agência Lusa teve acesso, José Sousa dirigiu-se ao quadro ativo dos bombeiros do Fundão e explicou a decisão tomada.
“Depois de tudo o que aconteceu (…) apresentei a minha demissão do cargo de comandante. Esta decisão foi tomada com sentido de responsabilidade e, acima de tudo, com respeito pelos superiores interesses da instituição e por todos vós, que nada fizeram para merecer carregar este peso nos ombros” vincou José Sousa.
Na mensagem, o comandante demissionário pediu ainda à corporação para que “permaneça unida e que apoie o comando que continuará”.
“Acompanhem a direção [da Associação Humanitária] neste período difícil. E, sobretudo, mantenham viva a essência do que somos: bombeiros, irmãos e mulheres e homens de palavra, honra e missão”, lê-se na missiva.
José Sousa sublinhou ainda que nunca abandonou os seus camaradas, nem “jamais lhes virará as costas”.
“Sei que este momento vos causa inquietação, tristeza e revolta, a mim também. Mas sei, ainda melhor, que o quadro ativo saberá estar à altura, como sempre esteve”.
“Deixo o cargo. Mas, nunca deixarei esta família”, frisou.
Após terem sido ouvidos em primeiro interrogatório judicial, os 11 bombeiros voluntários saíram em liberdade e oito destes ficaram impedidos de entrarem e frequentarem o quartel.
O Tribunal do Fundão revelou ainda que os bombeiros ficaram ainda proibidos de contactos com a vítima, também bombeiro.
Estão ainda proibidos de frequentar e permanecer na residência e trabalho da vítima e de esta se aproximarem a menos de 500 metros e proibidos de contactar com os demais arguidos e testemunhas dos autos.
A decisão do Tribunal considerou os “elementos de prova recolhidos até ao momento” e entendeu “verificados os perigos de continuação da atividade criminosa, perturbação do decurso do inquérito e perturbação da ordem e tranquilidade públicas”.
Três destes bombeiros estão ainda obrigados a apresentações periódicas, uma vez por semana, à quarta-feira, no posto territorial da respetiva área de residência.
Seis bombeiros estão indiciados pela prática de dois crimes de violação e um crime de coação sexual, três outros pela prática de um crime de violação e um de coação sexual e dois por crime de violação.
Dois deles estão indiciados por um crime de violação.
O Tribunal indicou ainda que nenhum dos 11 bombeiros prestou declarações durante o interrogatório.
O comandante demissionário disse ainda que, assim que teve conhecimento do “comportamento absolutamente inqualificável que alguns bombeiros tiveram para com um seu camarada”, a sua prioridade “foi, e continuará sempre a ser, a defesa, o apoio e a proteção da vítima e da sua família. Nada está acima da dignidade humana. Nada está acima da justiça”.
“É igualmente fundamental afirmar, de forma clara e inequívoca, que nunca tive conhecimento prévio de quaisquer atos semelhantes por parte dos arguidos, dentro ou fora da instituição”.
Disse ainda que determinou de imediato “o apoio integral à vítima, recolhendo informação rigorosa sobre o sucedido; a abertura de um processo disciplinar, com o objetivo de apurar sem hesitações todos os factos e responsabilidades”.
“Quero deixar uma mensagem absolutamente clara: como comandante, estive sempre próximo, vigilante e empenhado na proteção da vítima. Não hesitei, não hesitarei. Não posso aceitar, nem aceitarei, qualquer conduta que desrespeite os valores, princípios e a dignidade humana que devem reger um Corpo de Bombeiros. Quem pratica atos desta natureza não tem lugar nesta, nem em qualquer outra instituição que viva da confiança do povo”.
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