O Homem, a tecnologia e o tempo

O tempo que a tecnologia nos dá é menos do que o tempo que a tecnologia nos tira. Infelizmente, esta é uma conclusão óbvia, se pensarmos que, embora seja de enormes benefícios para a humanidade, a tecnologia é apenas aquilo que o Homem faz com ela.

  • Opinião
  • Publicado: 2023-05-21 17:31
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Sob o ponto de vista social, os avanços tecnológicos têm dado grandes oportunidades à humanidade para transcender a falta de condições na busca de uma melhor qualidade de vida, luta que sempre tivemos de enfrentar, mas que sem a presença e o auxílio dos grandes desenvolvimentos tecnológicos, se tornariam hercúleos. Mas, aparentemente, não temos usado essas oportunidades, potencializando o impacto real que ela poderia ter na humanidade.

Houve muitos impactos contemporâneos, significativamente importantes, que as grandes invenções tecnológicas provocaram nas economias, como os sucessivos aumentos e melhorias da produção; primeiro com o vapor, depois com a eletricidade, transformando a forma como produzíamos e afetando em escala e qualidade transversalmente as sociedades e culturas humanas. Outra oportunidade que a tecnologia nos ofereceu, com grande impacto social, ocorreu no século passado, entre os anos 60 e 70, quando a tecnologia permitiu a invenção dos primeiros eletrodomésticos: máquina de lavar roupa, loiça e o aspirador, que entregaram mais tempo que não representava apenas lucro e mais produção para as empresas.

Se pensarmos que o mais importante para o Homem é poder usar o tempo que a tecnologia liberta para atividades de impacto social e humano, então podemos afirmar que, depois da invenção do fogo, as primeiras tecnologias que provocaram um impacto significativo foram estas três, que, por sua vez, só surgiram com a invenção da eletricidade, pois, por exemplo, libertaram tempo para que a mulher tivesse a oportunidade de ser vista pela sociedade, de forma geral, com disponibilidade de tempo para ser integrada no mercado de trabalho. Isto deu origem à liberalização do mercado de trabalho e igualdade de género que hoje conhecemos, algo de enorme impacto na sociedade contemporânea.

Mas a substituição de tarefas laborais, da mão-de-obra humana por meios tecnológicos: máquinas, robôs e sistemas computorizados inteligentes, tendo como resultado a libertação de tempo e disponibilidade do ser humano para outras tarefas e atividades, se não for direcionada de forma correta, apenas nos retirará de tarefas para nos colocar em outras, diferentes, mas que nada trazem de positivamente humano. Estamos a deixar de fazer umas, para nos imergirmos noutras que, por nossa vontade, exigimos da tecnologia.

Vivemos imersos em excessos de conteúdos vindos das redes sociais e sistemas de comunicações. Nada indica que estamos a usar de forma correta esse tempo e essa disponibilidade para transcender no que o ser humano faz de diferente de uma máquina: o pensamento profundo e criativo que leva à diferenciação entre o que é humano e o que é das máquinas: sociabilização, inovação, arte, criação de pensamento filosófico e, principalmente, construção de novos hábitos, que podem levar-nos a tornar esse tempo gasto de forma verdadeiramente útil.

Se assim continuarmos, estamos apenas a permitir a criação de uma nova escravidão, esta não criada pelas máquinas, como tentam mostrar muitas das teorias da conspiração, mas sim decidida por nós, humanos, e apenas servida por essas máquinas que criamos para isso. As tecnologias sempre representarão as decisões que tomamos, em relação ao que queremos, no presente, que seja o nosso futuro. As máquinas apenas estarão aqui para nos servir, pois elas nunca terão como tomar decisões por nós.

Por isso, seremos sempre nós que decidiremos se vamos continuar a querer que “o tempo que a tecnologia nos dá seja menos do que o tempo que a tecnologia nos tira.”

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