No contexto das Comemorações do Centenário de Eugénio de Andrade, organizadas pela Biblioteca Municipal de Castelo Branco em colaboração com Paulo Samuel, foi apresentada ao fim da tarde desta sexta-feira, dia 28 de Abril, a antologia organizada pelo poeta Gonçalo Salvado.
“Um Corpo É Sempre Uma Chama – O Fogo e o Vinho na poesia de Eugénio de Andrade”, é uma colaboração da Editora Lumen com a Livraria Sá da Costa Editora de Lisboa, em parceria com a Quinta dos Termos.
A sessão contou com a presença do Presidente da Câmara de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, e do Assessor para a Cultura, Fernando Raposo.
A apresentação esteve a cargo de Maria João Fernandes, autora do texto de abertura.
A antologia foi idealizada para celebrar o centenário de Eugénio de Andrade figura maior da poesia portuguesa do séc. XX que viveu em Castelo Branco durante a sua infância. O livro que inclui uma seleção das referências ao fogo e ao vinho na sua obra poética reproduz na capa um retrato inédito do autor, realizado expressamente com esta finalidade pelo histórico designer gráfico português, o artista Dorindo de Carvalho.
Insere-se numa coleção de poesia dirigida por Gonçalo Salvado, única no panorama editorial português e cujas obras surgem no formato original livro/garrafa, pretendendo materializar a relação simbólica e milenar entre o vinho e a poesia. O editor é Ricardo Paulouro.
Nesse mesmo dia, e no mesmo espaço, antecedendo a apresentação da antologia, foi inaugurada uma exposição bibliográfica, artística e documental sobre Eugénio de Andrade, com destaque para as edições dos seus livros e para os poemas manuscritos e ilustrados pelo próprio Eugénio de Andrade que ficarão expostos na Biblioteca Municipal albicastrense até ao dia 6 de maio.
Da intervenção de Gonçalo Salvado que versou a “Poesia de amor de Eugénio de Andrade” destacamos: “(…) A poesia amorosa é, de entre todas a mais eterna. Nunca deixou de escrever-se, por cima do tempo, das vicissitudes mais adversas. (…) Os séculos, as guerras, as calamidades, as constrições sucedem-se sempre, mas a poesia amorosa volta a surgir como Afrodite das águas incólume e radiante como se ninguém nunca jamais a tivesse perturbado. Mistério que só se explica pela portentosa força do amor, por essa melodia de Eros irresistível que se faz carne com a carne do homem e que atravessa o tempo e que nunca se extingue. Essa mesmo Melodia que como nenhuma outra encanta e enfeitiça desde o alvor da nossa poesia os nossos poetas e à qual eles não podem resistir porque se veêm nela espelhados, sempre ansiosos de se entregarem à sua vibração, encontrando nela a correspondência integral com o seu próprio ser. (…) O próprio Eugénio de Andrade nos afirma isso mesmo por outras palavras: “Como estranhar-se que, entre nós a melodia do homem seja a melodia de Eros? Que poeta português pode negar-lhe a face sem negar ao mesmo tempo o coração?” E referindo-se a si próprio e à sua trajetória poética esclarece-nos: “À melodia exasperada e expectante, cálida e apaziguadora de Eros, a esse canto que da fundura do ser remonta às vertentes da morte, deve a minha poesia quase sempre o impulso inicial.” In: “Da palavra ao silêncio”, Rosto Precário, 1979. Foi exatamente enleado na melodia, ora exasperada, ora apaziguadora de Eros, que revolucionou Eugénio de Andrade a poesia portuguesa, criando um novo e inconfundível dizer amoroso, perfeita cristalização e irradiação do seu génio. (…) se a poesia amorosa portuguesa teve no séc. XX intérpretes de relevo, apenas em Eugénio de Andrade encontrou a sua expressão mais luminosa e pura, atingindo, na sua escrita, o seu zénite.”
Seguiu-se a leitura de diversos poemas e de textos em prosa (com referências a Castelo Branco e à sua região) de Eugénio de Andrade pelos alunos do Agrupamento Nuno Álvares e por alguns autores de Castelo Branco.
A sessão prosseguiu com a apresentação da antologia por Maria João Fernandes que realçou o essencial da poesia de Eugénio. Do seu texto com o título “O Amor que Arde e se Vê”, numa clara evocação a Camões, destacamos: “Que o lirismo é a vocação essencial da cultura portuguesa, é já há muito reconhecido, e também por Eduardo Lourenço. Eugénio de Andrade não apenas prolonga esta tradição, ilumina-a com o fulgor do seu verbo cintilante, portador das cores e dos frutos, da rosa que inaugurou a criação com o perfume e a beleza da presença. A síntese e a música da sua forma apelam à música, são as luminosas notas de uma sinfonia sempre recomeçada que traduz a amorosa cadência de um coração humano. O que torna incomparável a sua “lição” é a profunda sintonia com os elementos, entre os quais o fogo, como hoje nos podemos aperceber, ocupa metafórica e simbolicamente um lugar fundamental. Corpo, chama que arde na fogueira dos sentidos e da alma no brilhante incêndio do amor, tudo reunindo na graça de uma conjugação humana e terrestre sob o signo de um mistério intraduzível. Mistério antes de mais da palavra que Eugénio faz sua na cosmogonia inicial que todo o grande poeta inaugura.”
No final o Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco concluiu o evento, saudando esta iniciativa de grande relevância no contexto da celebração do centenário de Eugénio de Andrade e nela introduzindo uma histórica comunicação. A decisão do executivo de atribuir o nome do poeta António Salvado à Biblioteca Municipal de Castelo Branco.
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