Perico Delgado e Miguel Indurain fizeram as suas delícias nos tempos de juventude, mas nada mais, porque se sente “muito velho para ter ídolos”. Nem Alberto Contador mexe com ele. “Não me identifico com Contador. Identifico-me com David Blanco. Gosto muito de mim”, diz, pleno de confiança.
Mas nem sempre foi assim. Há 10 anos, na primeira das suas 11 participações, olhava para o vencedor de então, Vítor Gamito, e sentia que o português estava noutra dimensão, era “inacessível”, mas com o tempo encarregou-se de provar o contrário, a si e a todos os outros.
“A Volta a Portugal é o meu Tour de França e o Grande Prémio de Torres Vedras é o meu Dauphiné-Liberé”, diz o galego de 35 anos, que, depois das vitórias em 2006, 2008 e 2009, igualou o feito só antes alcançado por Marco Chagas, vencedor em 1982, 1983, 1985 e 1986.
Nascido na localidade suíça de Bienne, perto de Berna, onde os seus pais estiveram emigrados até aos seus cinco anos, o corredor de Santiago de Compostela só ‘nasceu’ para o ciclismo profissional em 2000, iniciando a carreira em Portugal, na equipa de Paredes.
Com licenciatura e pós-graduação em Administração e Gestão de Empresas, o ciclismo era uma paixão que falava mais alto, mas o rendimento era curto e David Blanco tentou a carreira de corretor na Bolsa de Madrid. Quatro meses foi quanto resistiu ao stress da atividade.
Preferia a estrada como escritório e, por isso, insistiu nas bicicletas, quase sempre em Portugal, com exceção de três épocas na Comunitat Valenciana (2004, 2005 e 2006), na última das quais conseguiu a sua primeira vitória na Volta a Portugal. Vítor Gamito já era um mito ultrapassado.
É então que o seu nome aparece ligado à Operação Puerto – como ficou conhecido o desmantelamento de uma rede de doping com epicentro no médico Eufemiano Fuentes – mas, tal como quase todos os nomes implicados, Blanco saiu limpo do escândalo.
De imediato surgiu a oportunidade de regressar ao pelotão luso e não hesitou. Juntou-se à equipa de Tavira e, no primeiro ano, 2007, terminou em quinto lugar a Volta a Portugal ganha pelo compatriota Xavier Tondo.
“Tranquilo, sossegado e calculista”, mas também expansivo quando as coisas lhe correm bem e quase irascível se não vão de feição, Blanco venceu as restantes edições disputadas, embora a de 2009 – ainda por homologar - lhe tenha ficado atravessada, por ter sido obtida na secretaria, devido à desclassificação de Nuno Ribeiro.
Contrarrelogista de eleição, Blanco também expôs a sua obstinação, ao perder seis quilos desde 2006 para se tornar um ciclista capaz de vencer na Senhora da Graça e na Torre. E nem o confesso “problema com o chocolate” o impediu de chegar seco como um “frango” para à quarta vitória.
E qual terá sido a mais saborosa? “Se tiveres quatro filhos, de qual gostas mais?”, responde Blanco, admitindo no entanto que a do ano passado é um “filho adotado” numa carreira que promete ter continuidade. Em Portugal ou não, é uma incógnita.
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