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Última chamada, todos a bordo

O medo da perda de empregos devido à mecanização, automação e informatização, tem sido recorrente há centenas de anos, desde o surgimento de máquinas como o tear mecânico.

  • Opinião
  • Publicado: 2023-07-04 17:04
  • Por: Antero Carvalho

Embora, ao longo da história, cada nova vaga de tecnologia importante, tenha levado a mais empregos com salários mais altos, cada nova onda, é acompanhada por afirmações de que "desta vez é diferente", desta vez é quando finalmente acontecerá, esta é a tecnologia que finalmente dará o golpe mortal ao trabalho humano. No entanto, isso nunca aconteceu. 

Já passamos por dois ciclos de pânico de desemprego impulsionados pela tecnologia no nosso passado recente; o da terceirização nos anos 2000 e o da automação nos anos 2010. Apesar de muitos líderes de opinião, especialistas e até executivos da indústria da tecnologia se baterem com esse tipo de argumentos ao longo de ambas as décadas, afirmando que o desemprego em massa estava próximo, no final de 2019, pouco antes do início da COVID19, o mundo tinha mais empregos com salários mais altos do que nunca na história da humanidade.

Quando a tecnologia é incorporada nos processos de produção, assistimos a um incremento na produtividade. Uma melhoria da produção resultante de uma diminuição dos recursos utilizados. Como consequência, os preços dos bens e serviços tendem a reduzir. Com a queda dos preços, gastamos menos para adquirir os mesmos bens e serviços, o que significa que o nosso poder de compra aumenta, permitindo-nos adquirir outros bens e serviços. Isso estimula a procura na economia, incentivando a emergência de novas formas de produção, incluindo a procura por novos produtos, e claro, novas indústrias. Por sua vez, geram-se novos empregos, em número superior, além dos perdidos por aqueles cujas posições foram suprimidas devido à automação. 

O desfecho é uma economia mais robusta com maior prosperidade material, um maior leque de indústrias, uma diversidade de produtos e um aumento do emprego. Mas as vantagens não se ficam por aqui. Verifica-se igualmente um aumento nos salários. Isto deve-se ao facto de, ao nível do trabalhador, individualmente, o mercado ajustar a remuneração com base na produtividade marginal do trabalhador. Um trabalhador que desempenhe as suas funções numa empresa que adota tecnologia avançada, terá uma produtividade superior em comparação com um trabalhador numa empresa que utiliza métodos mais tradicionais.

 O empregador, reconhecendo o aumento da produtividade, tenderá a oferecer uma remuneração mais elevada ao trabalhador, ou outro empregador poderá fazê-lo para atrai-lo. O resultado é que a introdução de tecnologia numa indústria, tende a não só incrementar o número de postos de trabalho, mas também a potenciar o aumento dos salários. Em síntese, a tecnologia habilita as pessoas a serem mais produtivas, o que leva à redução dos preços dos bens e serviços existentes e ao aumento do poder aquisitivo. Isto, por sua vez, fomenta o crescimento económico e a geração de emprego, simultaneamente incentivando a criação de novos postos de trabalho e indústrias emergentes.

Este cenário que descrevo, está longe dos cenários apocalípticos que muitos profetas da desgraça tentam atribuir a esta nova e importante era de avanço tecnológico de que a humanidade pode beneficiar com a IA. A IA não é um robot de olhos vermelhos tirado dos enredos cinematográficos de Hollywood. Numa breve descrição, o que é a IA? A IA é a integração e aplicação de matemática e código de software para ensinar computadores a entender, sintetizar e gerar conhecimento de maneira semelhante ao ser humano. A IA é um programa de computador como qualquer outro, ele executa, recebe entrada, processa e gera saída. 

A aplicação desse resultado, é útil numa ampla gama de áreas, desde programação até medicina, direito e artes criativas. Ela pertence às pessoas e é controlada por pessoas, assim como qualquer outra tecnologia. Uma descrição mais lúcida do que a IA é, seria pensar nela como: uma maneira de tornar tudo o que nós precisamos fazer, melhor.

O que a IA nos proporciona é a oportunidade de intensificar de forma significativa a inteligência e a eficiência humana para aprimorar uma infinitude de resultados, desde a elaboração de tecnologias sustentáveis até avanços na robótica e inovações para exploração espacial. Tudo isto irá melhorar exponencialmente daqui para a frente. O reforço da inteligência humana através da IA já está em marcha, a IA permeia o nosso quotidiano através de variados sistemas computacionais, está a ganhar ímpeto com modelos de linguagem sofisticados como o ChatGPT, e irá acelerar a um ritmo ainda maior, se assim o permitirmos. 

Nesta nova era da IA, cada criança terá um tutor de IA que é inesgotavelmente paciente, empático, conhecedor e solícito. O tutor de IA estará ao lado dessa criança em cada fase do seu crescimento, auxiliando-a a atingir o seu potencial. Cada indivíduo terá um assistente/mentor/treinador/conselheiro/terapeuta de IA que é inesgotavelmente paciente, empático, conhecedor e solícito. Cada investigador terá um assistente/colaborador/parceiro de IA que aumentará significativamente o seu leque de investigação científica e feitos. Cada artista, engenheiro, empresário, professor, médico e cuidador beneficiará do mesmo, nos seus campos respetivos. 

O aumento da produtividade na economia será fenomenal, estimulando o crescimento económico, a emergência de novos sectores, a geração de empregos e o aumento de salários, culminando numa era de prosperidade global. As descobertas científicas, novas tecnologias e medicamentos, crescerão exponencialmente. As artes entrarão numa era de esplendor, à medida que artistas, músicos, escritores e cineastas, auxiliados pela IA, adquirirem a capacidade de materializar as suas visões de forma mais célere e numa escala jamais vista. 

Qualquer tarefa que as pessoas desempenhem com a sua inteligência natural pode ser significativamente potencializada com a IA. Seremos capazes de encarar desafios que até agora têm sido intransponíveis sem ela, como; a erradicação de doenças ou a irradicação de problemas sociais como a pobreza que até aqui não temos sido capazes de resolver. Mas não é só ao nível da melhoria da inteligência humana, ou da melhoria dos salários, talvez a qualidade mais negligenciada da IA seja o quão humanizadora ela pode ser e o quanto os benefícios que ela pode trazer, poderão ter impacto numa revolução positiva nunca vista nos comportamentos humanos.

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