Levada a efeito pela Real Associação da Beira Interior (RABI), teve lugar no dia 19 de Fevereiro, sábado, na Biblioteca Municipal mais uma sessão da série “Já Leram a Poesia de…?”, desta vez consagrada ao poeta açoriano Roberto de Mesquita (1871-1923) e da qual foi orador o poeta António Salvado.
Na Mesa esteve o orador, José Dias Pires, Presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco, e o Presidente da RABI, Luís Duque-Vieira.
Antes, porém, de inciar a sua palestra – recital, achou por bem o poeta albicastrense referir-se ao merecido êxito do jovem cantor Rodrigo Lourenço, tendo-lhe consagrado umas palavras que nos apraz recordar: “Deve ter sido numa voz semelhante à voz de Rodrigo Lourenço (de timbre e de sonoridade apaixonantes, admiravelmente modelada nos seus tons, melodiosa sempre em cativante brandura ou em surpreendentes agudos, de flexibilização soante de revelante riqueza) que o pastor do “Cântico dos Cânticos” sussurrou ao ouvido da Sulamita: “…porque o amor é forte como a morte, e um dilúvio não seria capaz de destruir o fogo do amor, nem um rio apaga-lo…”.
Servindo-se de cerca de uma dezena de poemas de Roberto de Mesquita, e após ter iniciado os traços essenciais da biografia do poeta, procedeu António Salvado a uma ponderada e muito pormenorizada análise daqueles poemas, dos quais o apuramento dos seus temas e dos seus conteúdos permitiram ao palestrante divagar sobre aquilo que na sua poesia constitui reflexo nas escolas poéticas em vigor no tempo, como neo-romantismo, o ultra-romantismo, o simbolismo, o decadentismo e o impressionismo. Referiu-se António Salvado à vasta cultura do poeta açoriano, esmiuçando intertextualidades que, vindas da Antiguidade Clássica portuguesa (camoniana, por exemplo) se espraiam em profusão nas correntes poéticas do Século XIX e inícios do Século XX. E na dimensão temática expressiva da poesia de Roberto Mesquita, anote-se o relevo que António Salvado atribuiu a essa poesia no que se referiu à “açorianidade” que a alicerça. Na verdade, a atmosfera das ilhas do arquipélago formalizam dicções de linguagem e, ao mesmo tempo, de panos de fundo que enriquecem, com clareza, a mensagem emitida, e daí os ventos lastimosos, os dias cheios de chuva e a sua lentidão em passarem, as penumbras a alterarem paisagens, a carga da saudade, o próprio tédio…
Aponte-se, ainda, a presença de sonetos de Antero de Quental (outro açoriano…) na poesia de Roberto de Mesquita, em segmento que diz respeito a preocupações de ordem metafísica e religiosa.
A obra do poeta é constituída pelo livro “Almas Cativas” (1931) e por substancial quantidade de poemas publicados na imprensa açoriana e da metrópole. Em 1973 a editora Àtica lançou, na sua colecção de poesia, “Almas Cativas e Poemas Dispersos” de Roberto de Miranda.
Durante a palestra foi recitada poesia por parte de Maria de Lurdes Gouveia Barata, Maria Lurdes Riscado e Manuel Costa Alves. A palestra que foi apoiada pela Câmara Municipal de Castelo Branco, terminou com uma canção por parte de Antónia Carvalho.
Subscreva à nossa Newsletter
Mantenha-se atualizado!
© - Diário Digital Castelo Branco. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por: Albinet