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Sertã: Inquérito por concluir um ano após acidente que mudou vida de feridos e familiares dos 11 mortos

Um ano depois do acidente com um autocarro que matou 11 pessoas na estrada IC8, junto à Sertã, a GNR ainda não terminou o processo de inquérito, continuando a desenvolver diligências para a sua conclusão. 

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  • Publicado: 2014-01-25 08:45
  • Por: Diario Digital Castelo Branco/Lusa

Um ano depois do acidente com um autocarro que matou 11 pessoas na estrada IC8, junto à Sertã, a GNR ainda não terminou o processo de inquérito, continuando a desenvolver diligências para a sua conclusão.

"O processo está a ser um pouco mais moroso, devido à solicitação de peritagens que são externas à GNR e porque foi necessário solicitar novos elementos a todos os envolvidos no acidente", explicou à agência Lusa o sargento-ajudante Silva, chefe do Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da GNR de Castelo Branco e responsável pela investigação do desastre.

Segundo o responsável da GNR, "foi necessário ouvir todas as testemunhas e intervenientes no sinistro", desde passageiros, condutor e outras pessoas presentes no local, e solicitar elementos ao fabricante do veículo, à Estradas de Portugal e às concessionárias, entre outros, por forma a poder "recolher tudo o que for possível em termos de prova testemunhal".

"O processo inclui peritagens à via e à própria dinâmica do acidente, Está em segredo de justiça e continua em fase de inquérito", vincou.

O inquérito, segundo o chefe do NIC da GNR de Castelo Branco, está numa fase em que aguarda por alguns elementos resultantes de peritagens para, quando concluído, ser entregue ao Ministério Público.

"Não sei dizer se são as últimas peritagens. Depende dos resultados, se são conclusivos ou não", notou.

Ao longo do último ano, estiveram no local técnicos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e do Instituto Superior Técnico (IST), estando em análise as obras que decorriam na zona, bem como os efeitos de sinistros ocorridos dias antes, no mesmo sítio.

O NIC da GNR de Castelo Branco já reuniu registos das condições da via e do ambiente, que incluem pormenores como a densidade do nevoeiro ou o nível de piso molhado.

O objetivo final é fazer a reconstrução mais aproximada possível do que se terá passado, o que vai implicar uma simulação por computador para depois se apurarem as causas e se são imputáveis a alguém ou a algo.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal da Sertã, José Farinha Nunes, disse que, "pouco depois" do acidente, as obras naquele troço do IC8 foram concluídas.

"Foi tudo repavimentado e guarnecido com nova sinalização e obrigatoriedade de redução de velocidade no local", apontou.

"Depois de finalizadas as obras, que praticamente coincidiram com tão trágico acidente, as condições de circulação na via melhoraram substancialmente e não houve mais registos daquele tipo de incidentes", observou o autarca.

A 27 de janeiro de 2013, onze pessoas morreram e 32 ficaram feridas no despiste do autocarro em que seguiam, que caiu numa ravina, no nó de acesso do IC8 ao Carvalhal, na Sertã, distrito de Castelo Branco.

O que resta da viatura continua depositado nos estaleiros da Câmara da Sertã.

Ana Maria Rato, uma das sobreviventes, viu a sua vida mudar a partir desse dia, tal como a maioria dos feridos e familiares das 11 vítimas mortais.

Um ano após o desastre, que provocou ainda 32 feridos, na sequência do despiste do autocarro de matrícula espanhola, Ana Maria Rato relatou à agência Lusa que foi sujeita a duas operações e, diariamente, faz fisioterapia, tendo abandonado o seu emprego.

A sinistrada, moradora em Portalegre, tal como a maioria dos restantes 42 passageiros, incluindo sete crianças, que viajavam na excursão, confessou que ainda lhe “custa muito” recordar os momentos do acidente.

“A questão do seguro ainda está por resolver. Eles [seguradora] estão a pagar os tratamentos e o ordenado-base”, acrescentou.

Já Piedade Gaio nem sequer seguia no autocarro, mas a sua vida deu, igualmente, uma reviravolta para pior. O acidente “ceifou” as vidas da irmã e do cunhado.

Em declarações à Lusa, admitiu que a situação tem sido “complicada” e que, há um ano, “pressentiu” que algo tinha acontecido aos familiares que viajavam em direção a São Paio de Oleiros (Santa Maria da Feira), para uma visita a uma exposição denominada “O maior presépio do mundo”.

A irmã, recordou com nostalgia, “gostava muito de excursões”, ao passo que o cunhado “nunca queria” participar neste tipo de passeios.

A tragédia fez com que os filhos e netos das vítimas mortais tivessem recorrido à ajuda de psicólogos, contou Piedade Gaio, indicando ainda que, em matéria de seguros, “para já”, foram pagos os respetivos funerais, aguardando a família o desenrolar do processo.

O promotor da excursão, Luís Barbas, explicou à Lusa que as informações que possui apontam no sentido de que a seguradora está a agir “dentro da normalidade”.

Os casos “mais pequenos”, disse, estão na “maioria resolvidos”, ao passo que os casos de internamento prolongado e de morte “ainda não”.

Luís Barbas, que viajava também naquela excursão com a filha de 10 anos, adiantou que, entretanto, já voltou a organizar passeios. Contudo, “aquele dia nunca mais” lhe “sairá da memória”.

Faustino Castelinho, outro dos sobreviventes, apenas sofreu ferimentos ligeiros e já recebeu a indemnização da seguradora, mas a situação foi “difícil” na altura e, ao longo do último ano, foi “duro” recordar e “superar” o trauma, uma vez que eram todos como “uma família”.

Na cidade de Portalegre, o acidente foi vivido com consternação pela grande maioria da população. Ainda hoje, confirmou à Lusa a presidente da câmara, Adelaide Teixeira, o “gabinete de crise” criado no dia do acidente para dar apoio aos familiares “continua” em funcionamento, embora com “menos” procura.

Carla Silva, funcionária de um quiosque num bairro de Portalegre onde residiam algumas das vítimas recordou, por sua vez, que os jornais “esgotaram” durante vários dias, na altura do acidente, quando a população viveu momentos complicados.

“As pessoas estavam muito chocadas, tentaram apoiar-se umas às outras. Foi uma tragédia que marcou e continua a marcar”, disse.

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