OE2013: Impostos sobre o trabalho e pensões motivam maioria dos apelos à fiscalização

A tributação dos rendimentos do trabalho e das pensões suscitam a maioria das dúvidas de constitucionalidade entre partidos da oposição, sindicatos e especialistas, que fizeram chegar apelos ao Presidente da República nos últimos meses.

 

  • Economia
  • Publicado: 2012-12-15 17:44
  • Por: Diario Digital Castelo Branco/Lusa

A tributação dos rendimentos do trabalho e das pensões suscitam a maioria das dúvidas de constitucionalidade entre partidos da oposição, sindicatos e especialistas, que fizeram chegar apelos ao Presidente da República nos últimos meses.

Na oposição, PCP e BE, bem como alguns deputados do PS, sindicatos e outros setores da sociedade consideraram que o OE para 2013 é inconstitucional, especialmente no que toca aos aumentos de impostos e aos cortes nas pensões de reforma, sujeitas, a partir de certos montantes, a uma "contribuição de solidariedade".

O Parlamento enviou o diploma para promulgação na passada terça-feira, cabendo ao Presidente da República decidir no prazo de oito dias se pede ou não a fiscalização preventiva, o que seria inédito. O chefe de Estado tem ainda o poder de, após a promulgação, pedir a fiscalização sucessiva do documento, prerrogativa que se estende a outras figuras do Estado e ainda a um décimo dos deputados à Assembleia da República (23).

O constitucionalista Bacelar Gouveia defendeu que o facto de o Governo ter decidido devolver apenas um e não os dois subsídios é claramente inconstitucional, lembrando que o Tribunal Constitucional (TC) considerou que o corte do 13º e do 14º mês viola a Constituição.

Outro constitucionalista, Pedro Bacelar Vasconcelos, disse que o OE vai contra o sentido geral da Constituição no dever de os impostos serem ferramenta de "redistribuição na sociedade" e realizarem a "justiça social".

Num artigo no jornal Público, intitulado "A grosseira inconstitucionalidade da tributação sobre pensões", o ex-ministro e conselheiro de Estado Bagão Félix exemplifica que um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais impostos do que se estivesse a trabalhar com igual salário devido à "contribuição extraordinária de solidariedade", norma que suscitou também dúvidas a outro conselheiro de Estado, Vítor Bento.

O ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa disse acreditar que o diploma não viola a Constituição mas recentemente manifestou algumas dúvidas no que toca as pensões de reforma, após a publicação do artigo de Bagão Félix.

No caso das pensões, o corte é progressivo de 3,5% a 10% entre os 1.350 e os 3.750 euros. Acima desses valores os cortes vão subindo em várias parcelas: de 5.030,64 euros a 7.545,96 euros sofre um corte de 15 por cento, acima de 7.545,96 euros o corte é de 40%.

No acórdão que declarou inconstitucional a retirada dos subsídios de Natal e de férias, o TC admitiu que a análise da situação específica dos reformados e aposentados - suscitada pelos deputados - poderia "convocar diferentes ordens de considerações no plano da constitucionalidade".

No entanto, os juízes dispensaram-se de a analisar à luz de outros princípios, por já terem chegado à declaração de inconstitucionalidade tendo em conta o princípio da igualdade previsto na lei fundamental.

Com uma petição com 13 mil assinaturas entregue no parlamento, a Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados, que considera que aquele setor da população está a "ser alvo de um saque", dirigiu-se esta semana a Cavaco para que este recorra ao TC.

Pelo menos alguns deputados do PS que subscreveram o pedido de fiscalização sucessiva anterior, já admitiram fazer o mesmo no caso do OE para 2013, caso o Presidente da República não o faça preventivamente, e o PS/Açores já garantiu que irá avançar por essa via.

O PCP defende o veto político ao OE mas não tem dúvidas de que o documento é inconstitucional por apresentar um carácter degressivo no aumento do IRS: "É nos escalões mais baixos de pagamento de imposto que o saque fiscal é maior". Para o Bloco de Esquerda, as novas regras não respeitam a "equidade e a progressividade" fiscal prevista na Constituição e a coordenadora Catarina Martins já apelou à convergência na Assembleia da República para que seja suscitada a fiscalização sucessiva do documento.

No setor sindical, o secretário-geral da CGTP-Intersindical, Arménio Carlos, defendeu há dias o veto ao Orçamento, enquanto João Proença, da UGT, afirmou em setembro ter "grandes esperanças na magistratura de influência" de Cavaco Silva, apelando para que submetesse o Orçamento à análise prévia do TC.

Ainda no início de setembro, o provedor de Justiça, Alfredo José de Sousa, tinha dito em entrevista ao Diário Económico que Cavaco deveria pedir a fiscalização preventiva, afirmando-se preocupado com eventuais convulsões sociais.

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