Castelo Branco: Artista plástica inaugura exposição com obras criadas durante luto pela perda da mãe

Artista brasileira que vive em Lisboa apresenta obras criadas com recortes de tapeçarias herdadas da mãe. Exposição será inaugurada a 3 de Maio na galeria Castra Leuca - Arte Contemporânea, em Castelo Branco.

  • Cultura
  • Publicado: 2024-04-21 17:30
  • Por: Diário Digital Castelo Branco

Na exposição, Sandra Birman apresenta um trabalho que surgiu num processo de luto. A partir de recortes de tapeçarias gobelin herdadas da mãe, a artista brasileira que vive em Lisboa criou as obras que estarão até 16 de Junho na recém-inaugurada Castra Leuca, a primeira galeria de arte contemporânea privada no interior de Portugal. 

A artista plástica Sandra Birman encontrou uma forma inusitada de lidar com a perda da mãe, no fim de 2019. Ao entrar no apartamento da família, no Rio de Janeiro, e ver-se diante de tecidos antigos e diversos exemplares de autênticas tapeçarias gobelin, com as paisagens europeias que fizeram parte de toda a sua história até ali, ela decidiu recortar a herança e transformá-la em material para as suas obras. O trabalho de pintura e colagem sobre aqueles valiosos têxteis atravessou o Oceano Atlântico com a artista , quando decidiu mudar-se para Lisboa, no início de 2020. E deu origem à coleção “Escape”, que a partir do dia 3 de maio, estará patente na recém-inaugurada galeria Castra Leuca Arte Contemporânea, em Castelo Branco.

O título “Escape” é uma reflexão sobre a jornada emocional e criativa da artista, na sua primeira exposição a solo em Portugal. O nome sugere uma fuga não apenas dos cenários representados nas tapeçarias e tecidos, mas também das influências culturais e memórias que os cercam. Segundo Sandra Birman, porém, a palavra "escape", que vem de “landscape” (paisagem em inglês), agrega também a ideia de transcender, transformar e criar um novo mundo visual e emocional.

“Além do escape das memórias e influências culturais, há o escape para a imaginação, com as obras resultantes da reinvenção das imagens idílicas das paisagens europeias transformando-se em ‘mapas imaginários’, que sugerem uma fuga para um mundo de novas memórias e desafios. O escape da limitação, em que a reconstrução de um ambiente a partir da fragmentação das paisagens naturais foge das limitações da representação tradicional e abre caminho para uma interpretação livre de dogmas visuais. E o escape como transformação, em que o processo artístico de recortar, pintar e reinventar as imagens, permite-me uma fuga dos padrões óbvios das paisagens, com a sua transformação em algo inusitado e único”, explica a artista, que pela segunda vez foi selecionada para o RA Summer Exhibition e terá novamente uma de suas obras exibida na Royal Academy of Arts, em Londres.

Designer gráfica por formação e com uma carreira bem-sucedida na criação de logomarcas para empresas e já a meio do seu percurso como artista plástica, Sandra Birman quis experimentar o olhar do outro lado do espelho ao ingressar, em 2022, na pós-graduação em Curadoria de Arte, na Universidade Nova de Lisboa. Foi nas aulas do curso que conheceu César Correia, um engenheiro de formação que, depois da pandemia decidiu abandonar a carreira em gestão e marketing para dar vazão à paixão pelas artes. César é o dono da Castra Leuca, a primeira galeria privada de Arte Contemporânea do interior de Portugal.

“Durante o curso, ficamos amigos e tive a oportunidade e o prazer de começar a conhecer o trabalho da Sandra. Ainda antes de ter terminado a pós-graduação, eu já tinha proposto à Sandra fazer uma exposição na minha futura galeria”, conta César Correia, que nasceu na aldeia de Benquerenças e regressa à terra depois de viver os últimos anos em Aveiro.

Nas conversas para oficializar o projeto de levar a exposição de Sandra à galeria de César, inaugurada em março deste ano, os amigos tiveram uma alegre surpresa.  Quanto mais a artista partilhava pormenores sobre o seu trabalho, mais o galerista descobrira a sinergia entre as obras de Sandra com os bordados de Castelo Branco, o Jardim do Paço Episcopal e com a cidade de uma forma geral. 

“Convidei a Sandra para vir conhecer Castelo Branco e foi muito agradável ver o encantamento e a ligação que sentiu e todos os diálogos que se podem construir entre a cidade e o seu trabalho. Foi um dia mágico e quente, apesar do frio que se fazia sentir”, lembra César, que completa: “As tapeçarias recortadas e as novas paisagens construídas pela Sandra, no diálogo com os bordados de Castelo Branco, e os buracos negros em ligação com o Jardim do Paço Episcopal e os seus labirintos feitos com os arbustos, transportam-me para as memórias da minha infância, que são um escape para as minhas memórias de menino, que brincou e correu naquele jardim de forma livre e despreocudada”.

Paralelamente à exposição, Sandra Birman fará uma visita guiada aberta ao público, a 16 de maio. E a  25 de maio, a artista dará um workshop sobre colagens.

“O meu maior objetivo ao abrir uma galeria na minha cidade é dinamizar a arte contemporânea no interior de Portugal, expondo, comercializando e promovendo a obra de artistas nacionais e estrangeiros”, afirma César Correia.

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