"A Casa de Bernarda Alba" vai passa por Castelo Branco

A tensão entre o lado animal e o civilizacional do ser humano e as formas de poder e opressão são questões da peça “A casa de Bernarda Alba”, de García Lorca, que o Teatro Ibérico antestreia dia 18, em Lisboa.

  • Cultura
  • Publicado: 2018-10-16 10:28
  • Autor: Diario Digital Castelo Branco/Lusa

A tensão entre o lado animal e o civilizacional do ser humano e as formas de poder e opressão são questões da peça “A casa de Bernarda Alba”, de García Lorca, que o Teatro Ibérico antestreia dia 18, em Lisboa.

O encenador João Garcia Miguel escolheu pôr esta peça em cena como um apelo “contra o isolamento que aumenta no mundo”, e porque o texto de Federico García Lorca serve também de “libelo”, para “resistir”, como disse à agência Lusa.

Nos tempos que correm, frisou, “regressam as 'Bernardas Albas', crescem à luz cruel dos nossos dias, como monstros que despedaçam vidas”.

"São a cada dia mais coercivas", "propagam discursos onde subentendem mecanismos de repressão e censura, como se defendessem liberdades". "As oportunidades não são iguais para todos", nos tempos que correm, "e a diminuição da liberdade do indivíduo é uma atividade diária, uma sucessão de acontecimentos que não se conseguem repudiar e que nos acometem e acantonam em 'existências prisão'", diz João Garcia Miguel na apresentação da peça.

Para o diretor do Teatro Ibérico e encenador, a peça de Lorca é uma “excelente forma” de abordar o enclausuramento que o ser humano vive na atualidade e a falta de liberdade, tal como na peça do Lorca, referiu.

"A peça de Federico García Lorca e a personagem Bernarda Alba ilustram essa dificuldade de conseguirmos equilibrar a luta que vivemos diariamente das tensões latentes entre o lado mais animal e o lado mais social" e civilizado do ser humano, disse o encenador.

Por isso, destacou João Garcia Miguel, a peça de Federico Garcia Lorca permite abordar a questão da opressão.

Se na peça original é a morte do pai que desencadeia a clausura e a opressão das mulheres, no texto trabalhado por João Garcia Miguel, para palco, pairam os poderes autoritários existentes e disfarçados de democracia, que acabam por oprimir o presente e o futuro, acrescentou à Lusa.

“A versão que vamos fazer aqui tem a ver com a minha maneira de ver e viver o momento em que estamos, a ordem social, a própria situação do teatro português e de tudo [o que atualmente enfrentamos]”, frisou.

A peça de Federico García Lorca, a última escrita pelo autor antes de ser vítima da guerra civil espanhola, fuzilado pelas forças falangistas, é um drama em três atos que decorre na casa fechada de Bernarda Alba, mãe de cinco filhas - Angustias, Madalena, Amélia, Martírio e Adela -, num pequeno povoado do interior de Espanha.

Surge depois de "Bodas de Sangue" e "Yerma". Bernarda Alba, uma matriarca dominadora, mantém as filhas em clausura, sob uma vigilância implacável, num luto obrigatório de anos, contra a vontade de todos, levando as tensões ao limite. E, com Garcia Miguel, a ligação à atualidade é reforçada.

Aqui estão "os poderes autoritários disfarçados de democracia", com a sua "crescente influência limitadora da liberdade individual", aqui está "o poder das novas ditaduras sociais que, em nome da segurança, impõem ao cidadão regras de conduta e de transparência que condenam a intimidade e a privacidade", exatamente o poder que "Bernarda Alba o exerceu em sua casa".

"Essas novas formas de poder surgem associadas às ordens e regras com que as instituições sociais nos vão suave e gentilmente agrilhoando", insiste João Garcia Miguel na apresentação da sua encenação deste texto do dramaturgo espanhol.

Por isso, "o corpo e a terra precisam de falar". E, por isso mesmo, "demos-lhes a voz que Lorca nos deixou".

A abordagem de Garcia Miguel conta com o ator irlandês Sean O'Callaghan, na personagem que corresponderá a Bernarda Alba, enquanto a brasileira Anette Naiman interpreta as irmãs Angústias e Martírio e a sua conterrânea Paula Liberati interpreta Adela, a filha mais nova. Duarte Melo interpreta La Poncia, uma das velhas criadas da casa, que tudo dela conhece.

Os figurinos são de Rute Osório de Castro.

Torre Vedras, Coimbra, Bombarral, Castelo Branco, Aveiro, Braga, Torres Novas, Faro, Leiria, Guarda e Estarreja são algumas das localidades onde será representada "A Casa de Bernarda Alba", segundo João Garcia Miguel, numa digressão a realizar a partir deste mês, até março de 2019.

Em junho do próximo ano, "A Casa de Bernarda Alba" deverá também ser levada à cena, no Brasil.

No teatro Ibérico a peça vai estar em cena esta semana, de quinta-feira a sábado, sempre às 21:30.

 

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